FERNANDO COLLOR TOMOU POSSE EM 15 DE MARÇO DE 1990 E, NO DIA SEGUINTE, confiscou 70% do dinheiro de todas as contas bancárias do País - de pessoas físicas e jurídicas, de contas correntes e de investimentos; no caso, dos dois investimentos que realmente contavam naquela época: o overnight, favorito das empresas e dos abonados (o aporte mínimo equivalia a R$ 800 mil de hoje), e a poupança, que era o que restava a quem não estivesse no topo da pirâmide. Os saques ficaram limitados a atuais R$10 mil ("50 mil cruzados novos" pela notação da época). O que passasse disso ficava retido - só daria para sacar dali a um ano e meio. No ovemight, a regra foi outra: o sujeito podia sacar 20% do que tivesse ali. Era a única aplicação com liquidez diária (que você pode sacar todo dia) capaz de proteger da inflação da época - o Banco Central imprimia dinheiro novo diariamente para remunerar o povo do over.
Era a "correção monetária", que existia para compensar uma inflação absurda. Em janeiro de 1990, o IPC-A acumulado nos 12 meses anteriores foi de 2.426%. Em fevereiro, 3701%. E por um motivo irônico: a correção monetária retroalimentava a inflação. muito mais dinheiro novo em circulação a cada dia, o encarecia as coisas para comprar com esse dinheiro, e os preços subiam desesperadamente. Quase dobravam todo mês. Como acabar com isso? "Drenando dinheiro da economia", Collor e sua equipe pensaram -com razão. Veio o confisco. E a inflação até caiu, de 80% ao mês para algo em torno de 15% (o que ainda é hiperinflação, só que menos aterrorizante).
Mas o Ibovespa amargou queda de 30% nos dois pregões seguintes ao confisco - o mesmo que a Bolsa de Nova York no Crash de 1929. Ao final de 1990, as ações das empresas listadas na bolsa perderiam 75% do valor. Não existia mais confiança na economia. E sem confiança não há economia. O ano fecharia com uma retração de 4,3% no PIB - a queda mais violenta da história. Para tentar conter a recessão galopante, o governo foi liberando boa parte do dinheiro retido. Não foi suficiente para combater a recessão, e acabou colocando mais gasolina na fogueira da inflação. CAv)
Fonte: Revista Super Interessante - Edição 412 - Fevereiro/2020
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