Comprar na baixa, vender pouco, reinvestir os dividendos: as lições do discreto Luiz BarsI, que construiu um patrimônio de R$ 1,5 bilhão no mercado de ações
Por Fernando TEIXEIRA
O paulistano Luiz Barsi Filho será eternamente grato a um amigo que, no fim da década de 1960, tentou de tudo para vender-lhe um plano de previdência privada, do extinto Montepio da Família Militar. Não, o amigo não foi um guru inspirador. “Era um chato, coitado”, diz o investidor. No entanto, indiretamente, foi quem estimulou Barsi a conhecer o mercado acionário. “Eu queria provar para ele que a bolsa rendia mais do que o plano de previdência e, por isso, passei algumas semanas estudando o mercado, comparando empresas e analisando setores”, diz ele, que fez sua carreira profissional como auditor e na área financeira de pequenas empresas.
“Concluí que ganharia muito mais dinheiro comprando ações baratas de empresas que pagam bons dividendos.” Quase cinco décadas se passaram, Barsi formou-se em contabilidade, ciências atuariais, economia e direito. Os montepios faliram fragorosamente na década de 1980, as ações subiram e desceram ao sabor das crises e dos humores do mercado e Barsi – que seguiu sua própria estratégia à risca – não tem do que reclamar. Ele não declara o patrimônio. “Tenho o suficiente.” Tampouco diz quanto ganha de dividendos todos os anos. “Recebo um bom dinheiro.”
Aos 74 anos, dono de 13,6% das ações da Eternit e maior acionista individual de companhias como Unipar e Banco do Brasil, Barsi é um dos investidores mais bem-sucedidos do Brasil, com um patrimônio pessoal estimado pelo mercado em R$ 1,5 bilhão. Em entrevista à DINHEIRO, na corretora Elite, onde comparece todos os dias para comprar (e raramente para vender) ações, Barsi falou do mercado, da crise, de Warren Buffett, maior investidor americano e segundo homem mais rico do mundo, e de como ganhar e gastar dinheiro em tempos de bonança ou de turbulência. A seguir, os principais tópicos da conversa:
1) Pensar no longo prazo
Esse é um dos vários pontos em comum de sua filosofia de investimento com a de Buffett. Por isso, Barsi diz sentir-se como peixe dentro d’água em crises como a atual, quando as cotações desabam. Nesses momentos, quando a maioria dos investidores está vendendo papéis a baixo preço, Barsi aproveita para aumentar suas posições. “Quando uma ação está barata, eu compro; quando está cara, eu não realizo lucro, simplesmente deixo de comprar.” Assim como Buffett, ele não conta com a possibilidade de ganhar dinheiro revendendo os papéis por um preço mais elevado. “Todo mundo quer comprar barato e vender caro, e, nesse mercado, quem define o preço de saída não sou eu, é o comprador”, diz.
Recomendação: “Eu não compro ações. Escolho boas empresas, com bons fundamentos, e me torno parceiro delas no longo prazo.”
2) Não ter medo de ir contra a corrente
Nos últimos tempos, Barsi tem comprado grandes quantidades de papéis cuja simples menção provocaria crises de pânico na maioria dos administradores de fundos. “Atualmente, minhas preferidas são Banco do Brasil, Eletrobras e Eletropaulo”, diz. A preferência pelo banco estatal é explicada pelo baixo preço das ações e pelo pagamento consistente de dividendos. “Bradesco e Itaú estão caros. A rentabilidade do Banco do Brasil é quase o dobro.” O mesmo raciocínio vale para as empresas elétricas. Esses papéis vêm sofrendo desde o início do ano, quando o governo federal alterou o cálculo de remuneração das concessões, causando pesadas perdas. Também merece sua atenção o setor petroquímico, em especial as ações da Unipar e da Ultrapar.
Recomendação: “As boas empresas não se tornam ruins porque o mercado está em crise.”
Pensar no longo prazo, escolher boas empresas e crescer
com elas: a estratégia de Barsi que Buffett aplaudiria (Warren Buffett)
3) Reinvestir os dividendos
O raciocínio de Barsi para escolher uma empresa é simples: ele procura companhias que pagam sistematicamente bons dividendos, como as ações ordinárias da Eletrobras. “Pelo estatuto, ela continua pagando um dividendo obrigatório elevado”, diz Barsi. A queda de cerca de 65% nos 12 meses até junho não o assusta. Ao contrário. “Isso me favorece. Compro a ação pensando em obter uma renda anual, e, se a cotação cai, adquirir essa renda custa menos dinheiro”, diz. Idem para a Eletropaulo, outra recente queridinha, ao lado de Transmissão Paulista e CPFL, além de nomes do setor de papel e celulose, como Suzano e Klabin. Semelhante raciocínio garantiu a construção e a multiplicação de seu patrimônio.
Recomendação: “Toda empresa vale a pena, desde que ela pague um dividendo inteligente.”
4) Saber quando vender
Barsi é um investidor de longo prazo por excelência, daqueles que compram ações durante décadas. Mesmo assim, ele já se desfez de algumas posições, ainda que as empresas vão ao encontro de suas preferências. O melhor exemplo é o dos papéis da Souza Cruz. A fabricante de cigarros é uma das companhias que mais agregaram valor para o acionista nas últimas décadas e paga dividendos religiosamente, o que não impediu o investidor de ter vendido essas ações há tempos. A explicação é simples. “O setor de tabaco vive com uma espada sobre a cabeça, as empresas estão cada vez mais sujeitas a processos e a restrições sobre a venda de seus produtos”, diz.
Recomendação: “Ficar atento às ameaças externas à empresa.”
5) Cuidado com os gastos
Barsi leva uma vida que se poderia classificar como espartana. Morador da região metropolitana de São Paulo, ele decidiu, há alguns anos, comprar um apartamento na capital para facilitar seus deslocamentos. Fiel a seu estilo, estudou cuidadosamente trajetos e itinerários. “Se escolhesse bairros da moda, como Jardins ou Vila Olímpia, eu perderia muito tempo no trânsito, por isso acabei comprando um apartamento de 80 metros quadrados na zona leste de São Paulo”, diz o investidor. “Fica perto do metrô, no qual, aliás, viajo de graça.” O porte de sua conta bancária permitiria a Barsi comprar várias coberturas e uma frota de helicópteros para se deslocar entre elas, mas a opção por um apartamento de classe média (bem média) mostra sua filosofia em relação aos gastos. “Vivo bem, moro em uma boa casa, não me privo de nada, mas não vou ficar comprando o que não preciso apenas para lustrar meu ego”, diz ele. Decisão que Buffett, aliás, aplaudiria.
Recomendação: “Gastar com o que é necessário e evitar a ostentação.”
Aprenda com o Warren Buffett brasileiro - ISTOÉ Dinheiro
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