As companhias abertas são fiscalizadas pela CVM, por auditorias e conselheiros, mas isso não protege o investidor que não for desconfiado e não usar seu bom-senso (Por Cláudio Gradilone)
por Cláudio Gradilone
O economista Pedro Malan, que comandou o Ministério da Fazenda entre 1995 e 2002, é um profissional acima da crítica. Sua ética e sua postura inatacável, no cargo e fora dele, são indiscutíveis. A melhor prova disso é que, mesmo tendo comandado a principal pasta da República durante dois governos, ele ainda trabalha para viver. No entanto, nem mesmo um profissional como Malan foi capaz de defender os investidores da petrolífera OGX. Malan, Ellen Gracie, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e o ex-senador Rodolpho Tourinho Neto eram os três conselheiros independentes da OGX. Todos renunciaram ao cargo no dia 21 de junho, em plena crise de confiança do mercado quanto às perspectivas da empresa.
Partiram sem fazer comentários, e sua saída do cargo ajudou a precipitar ainda mais a queda das cotações, pois elevou a desconfiança com relação às perspectivas para a empresa. Se nem mesmo profissionais gabaritados conseguem proteger os acionistas minoritários quando tomam assento no Conselho de uma empresa, o que fazer? Amplamente citada em qualquer livro sobre o mercado financeiro, a expressão latina caveat emptor, que significa “cuide-se, comprador”, é o alerta mais preciso para quem pensa em adquirir uma ação. As empresas abertas são reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, quando ligadas ao mercado financeiro, também pelo Banco Central (BC).
Os bancos responsáveis por trazê-las ao mercado têm de cumprir normas estritas de confidencialidade. Pela Lei das Sociedades Anônimas aprovada em 2001, elas são obrigadas a manter um conselho fiscal interno para analisar as contas. Submetem seus balanços a empresas de auditoria que cobram caro para esquadrinhar seus números. Finalmente, seus executivos podem ser excluídos do mercado financeiro se negociarem ações com base em informações privilegiadas, ou se não medirem milimetricamente as palavras ao falar dos planos e previsões da companhia. Com todos esses controles, barreiras e fiscais, o investidor deve se acautelar.
A formalização da chamada “assimetria de informação” entre investidores e gestores de empresas rendeu um prêmio Nobel de economia ao americano Joseph Stiglitz em 2001. Stiglitz demonstrou a ineficiência dos mercados em trabalho a seis mãos com os colegas George Akerlof e Michael Spence e provou que o investidor sempre estará em desvantagem. O motivo é simples. Mesmo que acompanhe de perto as decisões e os comunicados da empresa, compareça a todos os eventos e leia todos os relatórios independentes, o investidor terá, na melhor das hipóteses, uma visão parcial e incompleta do que se passa do lado de dentro do portão.
Nesse ambiente, a quem apelar? A resposta de que o investidor vê seu melhor amigo quando contempla o espelho é inexata. O único – não o melhor – amigo do investidor é ele mesmo. Por isso, na hora de decidir por um investimento, seja em uma ação negociada em bolsa, seja em uma empresa ou em um título de renda fixa oferecido por um banco, o investidor tem de contar com doses razoáveis de cautela e bom-senso. Se der ouvidos à ganância, não tomar precauções e não desconfiar de promessas mirabolantes, o investidor perderá seu dinheiro. E vale aqui a recomendação de Warren Buffett. “Se você sentar-se em uma roda de pôquer e, em meia hora, não descobrir quem é o pato, vá embora: o pato é você.”
Artigo - ISTOÉ Dinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário