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CONTADORA QUE DENUNCIOU DOLEIRO FARÁ ONG PARA TESTEMUNHAS

Meire Poza diz que foi abandonada pelos policiais federais após colaborar com a Operação Lava Jato e perdeu amigos e clientes


A contadora Meire Poza, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef e testemunhou contra ele na Operação Lava Jato, vai montar uma organização não-governamental (ONG) de apoio a testemu- nhas. A ONG “Eu faço a diferença” dará apoio jurídico e psicológico a testemunhas de crimes que se sentem desamparadas pelos investigadores.

“A ONG vai cobrar a polícia, o ministério público e dar apoio a essas pessoas”, diz. A organização terá a parceria do escritório de advocacia do ex-secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr, que escreveu o livro “Assassinatos de Reputações 2 – Muito Além da Lava Jato”, que conta a participação de Poza na investigação. A ONG será mantida com doações de empresários e a venda de camisetas e cadernos.

A decisão de fazer a ONG foi motivada pela decepção com os policiais da Lava Jato. 

Mesmo sem ter sido alvo das investigações, ela se diz uma vítima da operação. “A Polícia Federal (PF) acabou com a minha vida.” Poza diz ter sido usada e depois abandonada pelos policiais. 

“Eu perdi meus amigos, acabou um casamento de 15 anos, a minha filha sofreu e eu tive prejuízo financeiro.”

Poza entrou na Lava Jato por vontade própria. Em 2014, após Youssef ser preso, ela procurou os delegados para entregar documentos e ajudá-los a entender as operações financeiras do doleiro. 

“Eu fui muito mais que uma colaboradora. Eles me deixavam muito à vontade como se eu fizesse parte (da Lava Jato)”, diz. “Eu ajudei a escanear processos, ajudei numerar, eu fiz arquivo.” Ela diz que teve acesso privilegiado a material da investigação.

Num período de 13 meses ela calcula que tenha ficado pelo menos 4 meses em Curitiba. Todas as despesas das viagens foram bancadas com dinheiro próprio, diz ela. “Gastei cerca de R$ 25 mil em passagens e hospedagens.” Com a exposição, seus clientes a abandonaram. “Eu não tinha dinheiro para pegar ônibus.” Antes da Lava Jato seu escritório faturava R$ 150 mil por mês, mas o faturamento caiu para R$ 1.300.

Ao explicar a razão de ter feito o que fez ela diz que foi movida pela relação pessoal. “O Márcio (Anselmo, delegado) estava sempre ali, qualquer coisa que eu precisasse ele estava sempre ali. A gente se falava de domingo a domingo”, diz. “É uma coisa que eu não sei explicar”.

A relação, porém, foi ficando mais distante. Suas mensagens deixaram de ser respondidas. A relação, então, acabou. “Depois de um tempo ele (Anselmo) me bloqueia no Whatsapp, o Prado (Ricardo, agente) me bloqueia no Whatsapp”, lamenta.

“E aí, ponto final.” No dia 31 de março o escritório dela pegou fogo e, para a mágoa da contadora, o aplicativo continuou sem mensagens dos policias.


As causas do incêndio ainda não foram esclarecidas. Na ONG, ela cuidará para que casos assim não se repitam. “Se eu souber que um delegado fez isso com a pessoa que está sob os meus cuidados, nós vamos ter que conversar diferente.”


A Polícia Federal não quis se manifestar sobre as declarações de Meire Poza.


FONTE: FOLHA DE S.PAULO - A12 poder Terça-feira, 24/05/2016

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