CONTADORA QUE DENUNCIOU DOLEIRO FARÁ ONG PARA TESTEMUNHAS
Meire Poza diz que foi abandonada pelos policiais federais após colaborar com a Operação Lava Jato e perdeu amigos e clientes
“E aí, ponto final.” No dia 31 de março o escritório dela pegou fogo e, para a mágoa da contadora, o aplicativo continuou sem mensagens dos policias.
As causas do incêndio ainda não foram esclarecidas. Na ONG, ela cuidará para que casos assim não se repitam. “Se eu souber que um delegado fez isso com a pessoa que está sob os meus cuidados, nós vamos ter que conversar diferente.”
A Polícia Federal não quis se manifestar sobre as declarações de Meire Poza.
FONTE: FOLHA DE S.PAULO - A12 poder Terça-feira, 24/05/2016
Meire Poza diz que foi abandonada pelos policiais federais após colaborar com a Operação Lava Jato e perdeu amigos e clientes
A contadora Meire Poza,
que trabalhou para o doleiro
Alberto Youssef e testemunhou contra ele na Operação
Lava Jato, vai montar uma organização não-governamental (ONG) de apoio a testemu-
nhas. A ONG “Eu faço a diferença” dará apoio jurídico e
psicológico a testemunhas de
crimes que se sentem desamparadas pelos investigadores.
“A ONG vai cobrar a polícia, o ministério público e dar
apoio a essas pessoas”, diz. A organização terá a parceria do escritório de advocacia
do ex-secretário Nacional de
Justiça, Romeu Tuma Jr, que
escreveu o livro “Assassinatos de Reputações 2 – Muito
Além da Lava Jato”, que conta a participação de Poza na
investigação. A ONG será
mantida com doações de empresários e a venda de camisetas e cadernos.
A decisão de fazer a ONG
foi motivada pela decepção
com os policiais da Lava Jato.
Mesmo sem ter sido alvo
das investigações, ela se diz
uma vítima da operação. “A
Polícia Federal (PF) acabou
com a minha vida.” Poza diz
ter sido usada e depois abandonada pelos policiais.
“Eu perdi meus amigos,
acabou um casamento de 15
anos, a minha filha sofreu e
eu tive prejuízo financeiro.”
Poza entrou na Lava Jato
por vontade própria. Em
2014, após Youssef ser preso,
ela procurou os delegados para entregar documentos e ajudá-los a entender as operações financeiras do doleiro.
“Eu fui muito mais que
uma colaboradora. Eles me
deixavam muito à vontade
como se eu fizesse parte (da
Lava Jato)”, diz. “Eu ajudei a escanear processos, ajudei
numerar, eu fiz arquivo.” Ela
diz que teve acesso privilegiado a material da investigação.
Num período de 13 meses
ela calcula que tenha ficado pelo menos 4 meses em Curitiba. Todas as despesas das
viagens foram bancadas com
dinheiro próprio, diz ela.
“Gastei cerca de R$ 25 mil em
passagens e hospedagens.”
Com a exposição, seus clientes a abandonaram. “Eu não
tinha dinheiro para pegar
ônibus.” Antes da Lava Jato
seu escritório faturava R$ 150
mil por mês, mas o faturamento caiu para R$ 1.300.
Ao explicar a razão de ter
feito o que fez ela diz que foi
movida pela relação pessoal.
“O Márcio (Anselmo, delegado) estava sempre ali, qualquer coisa que eu precisasse
ele estava sempre ali. A gente se falava de domingo a domingo”, diz. “É uma coisa
que eu não sei explicar”.
A relação, porém, foi ficando mais distante. Suas mensagens deixaram de ser respondidas. A relação, então,
acabou. “Depois de um tempo ele (Anselmo) me bloqueia
no Whatsapp, o Prado (Ricardo, agente) me bloqueia no
Whatsapp”, lamenta.
“E aí, ponto final.” No dia 31 de março o escritório dela pegou fogo e, para a mágoa da contadora, o aplicativo continuou sem mensagens dos policias.
As causas do incêndio ainda não foram esclarecidas. Na ONG, ela cuidará para que casos assim não se repitam. “Se eu souber que um delegado fez isso com a pessoa que está sob os meus cuidados, nós vamos ter que conversar diferente.”
A Polícia Federal não quis se manifestar sobre as declarações de Meire Poza.
FONTE: FOLHA DE S.PAULO - A12 poder Terça-feira, 24/05/2016
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