REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA - DIVÓRCIO ENTRE SÓCIOS DA USIMINAS É DADO COMO CERTO.

Protagonistas da maior briga societária do País, Nippon e Ternium só se uniram para barrar a CSN; agora, na separação, devem dividir ativos


Por: Mônica Scaramuzzo Fernanda Guimarães

Um dos símbolos da indústria do aço do País, a siderúrgica mineira Usiminas começa a discutir, nos próximos dias, mudanças que podem definir o futuro da empresa. Na quinta-feira, o conselho de administração da companhia vai decidir sobre umapossível trocadeboa parte da diretoria executiva. Paralelamente, em conversas ainda não oficiais, começa a ganharcorpoapropostadecisão da siderúrgica. A Usiminas, que já chegou a ser avaliada em R$ 31 bilhões em 2010, quando o País teve um crescimento robusto, hoje vale um décimo desse valor e corre risco de pedir recuperação judicial,casoumaamplareestrutura- ção de suas dívidas não seja feita. Nos últimos meses, as ações se deterioraram com a crise do setor do aço (o grupo demitiu e desligou altos-fornos), aliada à briga entre seus principais só- cios, que se transformou na maiordisputasocietáriadoPaís. Há quase duas semanas, contudo,osdois sócios–ajaponesa Nippon e a Ternium, subsidiá- ria dogrupoítalo-argentinoTechint–começarama falar a mesma língua pela primeira vez,desde setembro de 2014, quando a disputa se tornou pública. O motivo para a mudança foi que a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch e maior sócia da Usiminas fora do bloco de controle, conseguiu aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para indicar doismembros para o conselho de administração da siderúrgicaeumparaoconselho fiscal. Esses representantes terão de se reportar ao Cade. Contrariados com a decisão do Cade, Nippon, Ternium e Usiminas recorreramna Justiça contra o órgão antitruste, sob o argumento de que essa medida dá voz à CSN, um ano depois de o próprio Cade ter barrado a intenção do grupo de Steinbruch por ter feito o mesmo pedido. Ao Estado, o procurador-chefe do órgão Victor Santos Rufino, dissequea faltadeconsensoentre os sócios e a crise financeira delicada da Usiminas levaram o Cade a tomar essa decisão. Em 28 de abril, um dia após a decisão do Cade,aTerniumconseguiu emplacar o presidente doconselhodogrupo,oadvogado Elias Brito, com o apoio da Nippon, o que foi considerado uma trégua na briga. Com acordo de acionistas engessado (válido até 2031), no qual tudo tem de ser decidido em consenso, a falta de entendimento entre os sócios daria o poder de decisão aos minoritários. Tudo o que Nippon e Ternium não querem agora. “É uma situação pitoresca. De umlado, a disputa societária destróiovalor de umaempresa. Do outro, a CSN poder indicar conselheiros também é estranho. O próprio Cade tinha determinado (em 2012) que a CSN tinha de vender as ações da Usiminas”, diz Pedro Galdi, da Galdi consultoria. Gestão e cisão. A gestão do atualpresidente,RômeldeSouza, também temsidoquestionada pelomercadoe por parte dos acionistas do grupo. A empresa divulgou no terceiro trimestre seu sétimo prejuízo líquido consecutivo e temuma dívidadeR$ 7,5bilhões.Souza,nomedeconfiança da Nippon, foi imposto pela sócia japonesa após a destituição de executivos indicados pela Ternium. Parte dos acionistas defende a saída de Souza para que a Usiminas conduza a reestrutura- ção das dívidas, condicionada à capitalização de R$ 1 bilhão, já aprovada. A CSN discorda desse processo de capitalização e promete questionar todos os contratos feitos pelos sócios. Acisão,quejá tinhasidoaventadaem2014,voltou à mesa, embora em discussões ainda não oficializadas. Fontes afirmaram que os dois lados vão contratarbancospara fazero relató- rio de “fairness opinion” (avaliação de preços). A expectativa é de que haja venda de ativos. A Nippon ficaria com a fábrica de Ipatinga (MG), por já ter contratos com parceiros locais, e a Ternium, com Cubatão (SP), beneficiando-sedoladologístico.O ponto nevrálgico seriam o preço e os passivos tributários e ambientais.Essa decisão, se tomada, só seria concluída no fim do ano, segundo fontes. O divórcio de Nippon e Terniumédadocomocerto.Procurados sobre o tema, nem os só- cios nem a Usiminas comentam. No mercado, fontes afirmam que a CSA, da ThyssenKrupp, poderia se unir àTernium após a cisão, pois há sinergias entre os grupos. A Ternium nega; a Thyssen não comenta. A prioridade dos dois sócios, agora, de acordo com fontes, é se livrar da pedra no sapato que se tornou a CSN.

FONTE: http://estadao.com.br/ de segunda-feira 09/05/2016.

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